Quando criança, em idade escolar, sempre ouvi da minha família que eu era esforçada e o meu irmão inteligente; que as minhas notas eram decorrentes de muito estudo e dedicação, diferente do meu irmão, que “mandava bem”, sem tantas horas de estudo.
Percebia um misto de orgulho e amparo nessa frase, mas na ocasião, eu não tinha repertório para questionar, afinal, eu era só uma criança. Hoje quando penso nisso eu entendo o real significado da minha dedicação pela pesquisa e pela educação. O fato é que eu cresci em uma família com mulheres predominantemente “fortes” e carreguei a herança de que eu era uma menina esforçada e com muitos braços para dar conta de tudo. Claro que objetivamente eu sabia que não precisava fazer isso, mas emocionalmente eu acreditava que sim.
Alguém já se sentiu assim? Em nossa sociedade valorizamos muito a ideia de que para a mulher ser forte ela precisa equilibrar muitos pratos e “dar conta” de tudo.
E muitos elementos, na dimensão individual e coletiva, reforçam isso: o mercado de trabalho, as comédias românticas que que a gente tanto ama, as músicas que cantamos e dançamos com os olhos fechados, balançando os braços pra cima como se não houvesse o amanhã, muitas vezes, reforçam o estereótipo da mulher multitarefa. E quando isso não acontece é um verdadeiro desastre. Se você é competente no mundo do trabalho, provavelmente não é bem sucedido no amor. Ah! O filho de uma mulher que trabalha está ansioso, claro, a mãe é ausente e fica muito tempo fora de casa, como se a culpa precisasse ser da mulher e muitas vezes acreditamos nisso. Quem não lembra da nossa queridinha Sandra Bullock em “A proposta” interpretando uma mulher bem sucedida no trabalho, mas com uma vida afetiva “fracassada” ou da icônica Miranda Priestly, interpretada pela brilhante Meryl Streep em “O diabo veste Prada”?
A questão é que, mesmo “sem querer”, reforçamos esse estereótipo através das crenças que carregamos e dos comportamentos que mantemos sem questionar. Sim, hoje eu dou conta de muitas coisas, a diferença é que eu escolho os pratos que eu quero equilibrar e acreditem: não são todos. Eu levei um bom tempo para compreender e legitimar isso. Os ganhos na minha saúde mental foram significativos.
O mito da mulher multitarefa gera exaustão e isso invariavelmente causa prejuízos na saúde integral. Se eu puder dar uma dica valiosa é: invistam no autoconhecimento e confiem no potencial criativo da transformação. Aprendam a fazer escolhas que as beneficiem e acolham as dinâmicas possíveis de vocês. Vivemos em um mundo onde existem muitos julgamentos, mas em geral, as pessoas fazem isso a partir de suas lentes e isso torna o campo de análise bem pequeno.
Sejam mães, mulheres, esposas, profissionais alinhadas aos seus valores existenciais e façam o melhor que puderem a partir disso. Peçam ajuda e se fortaleçam sempre que necessário. Mudar não é fácil, às vezes pode significar transformar tudo. Em alguns casos, é a única saída. Assuma as rédeas de suas vidas e sejam felizes.
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