A adultização de menores e o alerta que as redes sociais trazem
- revistanovaversao
- há 43 minutos
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Nos últimos anos, temos visto um fenômeno preocupante: a adultização de crianças e adolescentes, intensificada pelo uso das redes sociais. Com fácil acesso a conteúdos que não são apropriados para sua faixa etária, muitos jovens acabam sendo expostos — e até incentivados — a comportamentos, padrões de beleza e estilos de vida que não condizem com sua fase de desenvolvimento.
Essa preocupação ganhou destaque recentemente com a denúncia feita pelo influenciador e youtuber Felca (Felipe Bressanim Pereira), que viralizou ao expor, em um vídeo, como algoritmos e interações online têm contribuído para a sexualização precoce de menores. Ele alertou para a existência do que chamou de “algoritmo P”, que identifica engajamento em conteúdos sugestivos com crianças e adolescentes e, a partir daí, passa a recomendar mais do mesmo, criando um ciclo perigoso e atraindo perfis mal-intencionados. Sua denúncia gerou repercussão nacional, mobilizando debates no Congresso e nas redes sobre a proteção infantil no ambiente digital.
De acordo com a psicoterapeuta Karina Younan, o problema vai além do consumo de conteúdos inadequados: há uma perigosa normalização social da exposição de crianças às redes. Ela destaca três pontos centrais.
1. Os riscos da exposição:
A vulnerabilidade aumenta quando fotos e vídeos de crianças se tornam material para exploração maliciosa, cyberbullying e até crimes virtuais. Há ainda a perda da privacidade — o que os pais postam hoje pode se tornar um fardo amanhã, registrado para sempre no rastro digital da criança. Somado a isso, a sexualização precoce transforma meninos e meninas em espetáculo, não em sujeitos em desenvolvimento.
2. As consequências da ausência de supervisão:
Crianças podem ter contato direto com conteúdos nocivos como violência, pornografia e padrões irreais de vida. O uso sem limites também favorece o isolamento social — substituindo experiências reais por vínculos frágeis no mundo virtual — e cria dependência, prejudicando sono, rendimento escolar e convivência familiar.
3. Os efeitos na autoestima e no intelecto:
O excesso de estímulos fragmenta a atenção, prejudicando memória, raciocínio e concentração. A comparação constante baseada em curtidas e seguidores mina a autoconfiança, além de reduzir a criatividade e a capacidade intelectual diante do consumo excessivo de conteúdo pronto. Em muitos casos, isso abre caminho para ansiedade e depressão precoces, quando a oscilação entre euforia (likes) e frustração (silêncio) se instala cedo demais.
A exposição precoce, portanto, pode gerar impactos profundos na autoestima, na identidade e na saúde emocional. Crianças passam a se preocupar com aparência, sexualidade e status de forma antecipada, deixando de viver plenamente as experiências próprias da infância e adolescência.
O que os pais devem observar:
• O tipo de conteúdo consumido: vídeos, fotos e desafios que incentivem sensualização ou comportamentos adultos.
• O tempo de tela: excesso de horas nas redes aumenta a exposição a modelos de vida irreais.
• Mudanças comportamentais: preocupação excessiva com aparência, uso de maquiagem e roupas inapropriadas para a idade, linguagem e gestos adultos.
• Interações online: atenção às conversas com desconhecidos e à pressão para produzir conteúdo semelhante ao que consomem.
Mais do que proibir, é importante orientar, conversar e educar. Como resume Karina Younan, “a infância tem sido terceirizada para os algoritmos”. A presença ativa e o diálogo aberto continuam sendo as ferramentas mais eficazes para proteger crianças e adolescentes desse processo de amadurecimento forçado, garantindo que vivam cada etapa da vida no seu tempo — com segurança, respeito e leveza.

Participação no artigo: Karina Younan - Psicoterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde pela Famerp e colunista.
Instagram: @kayounan
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