O que perdemos no caminho? Onde deixamos o que realmente importa?
- revistanovaversao
- há 4 dias
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Entre o avanço das tecnologias e a escassez de vínculos, vivemos uma era de abundância externa e carência interna.

Vivemos em uma época que parece, ao mesmo tempo, tão cheia e tão vazia.
Cheia de telas, de opiniões, de algoritmos, de posses, de estímulos. Mas vazia de silêncio, de presença, de vínculos reais. Um tempo em que tudo parece acessível, mas pouca coisa de fato nos toca. Um tempo em que podemos comprar o que quisermos com um clique, mas não conseguimos comprar tempo de qualidade com quem amamos.
Hoje, nas redes sociais, existem várias comunidades e vídeos dedicados à nostalgia. Cenas de programas antigos, propagandas, brinquedos, hábitos e músicas do passado viralizam com um sentimento unânime nos comentários: “Saudade daquela época. As coisas eram mais simples, mas muito melhores.”
É como se, coletivamente, estivéssemos tentando lembrar o que realmente importava — como se o passado ainda sussurrasse à nossa alma o que o presente tem tentado calar.
E, curiosamente, é nesse mundo tão “moderno”, tão cheio de possibilidades, que muitas vezes nos pegamos voltando — nem que seja só na memória — para um tempo que parecia mais simples. Mais difícil, sim, com menos poder de compra, menos acesso, menos conforto. Mas, por alguma razão, mais significativo.
Lembramos dos almoços de domingo com a casa cheia. Da vizinhança que se reunia na calçada para conversar. De quando a televisão era simples, mas trazia conteúdo que emocionava, informava, formava. De quando não precisávamos de senha para acessar o outro — bastava bater na porta.
Naquele tempo, talvez a geladeira não estivesse sempre cheia, mas o coração estava. E talvez seja isso que esteja nos faltando agora: substância.
Não se trata de saudosismo vazio. Não é sobre romantizar a escassez. É sobre perceber que, mesmo com menos, tínhamos mais. Mais atenção. Mais gentileza. Mais tempo. Mais humanidade.
O que mudou de lá pra cá? Tudo — exceto aquilo que realmente importa.
Os sentimentos continuam sendo os mesmos. O amor continua curando. O olhar continua acolhendo. A escuta continua sendo um presente. A amizade verdadeira continua sendo um porto seguro.
Talvez o nosso desafio hoje não seja voltar ao que era antes — isso nem seria possível. Mas sim resgatar, aqui e agora, o que fazia a vida ter mais gosto, mesmo com menos tempero.
Porque, no fim, não é o avanço que nos faz crescer. É o sentido. E esse, ainda está ao nosso alcance. Basta a gente querer lembrar.
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