Nem tudo são flores!
Conciliar a vida pessoal e profissional com a maternidade é, sem dúvida, um grande desafio para muitas mulheres. Toda vez que um bebê vem ao mundo, nasce também uma mãe. Algumas passam por essa fase com muita leveza, outras se sentem desamparadas e não sabem como lidar com as novas situações.
A médica ginecologista e obstetra, Dra. Cristiane Navarro Pereira, explica que um dos maiores desafios da maternidade da vida moderna é conseguir equilibrar todas essas demandas para que não haja a sensação de culpa, ou de estar faltando numa área e se doando mais à outra. “Acredito que precisamos acabar com a visão romantizada da maternidade. Isso também pode gerar culpa nas mães. Algumas fases são bem difíceis, e isso é normal”.
Gestação e Nascimento
Para ela, o período de gestação é uma fase em que a mulher pode refletir sobre as diversas mudanças tanto físicas quanto emocionais que estão ocorrendo em sua vida. “Esses nove meses também é um período para que o nosso corpo e mente possa se adaptar a essas mudanças que virão pela frente, a família que está sendo formada e as novas responsabilidades. O parto, na verdade, é um desfecho para essa nova realidade, pois é o inicio de uma nova vida para mãe e filho”.
A médica esclarece que um dos pontos mais críticos são as primeiras semanas após o nascimento do bebê, momento em que os pais estão cheios de dúvidas. “É muito importante que a mulher tenha uma rede de apoio, que pode ser: amiga, vizinha, mãe, sogra, um bom marido ou um bom médico obstetra e um pediatra. Pessoas que sempre possam ouvir as queixas dessas novas mães com carinho e delicadeza. Sem essa rede de apoio, existem probabilidades dessa mulher desenvolver a depressão pós-parto, tão falada nos dias atuais”.
Sobre sua experiência como mãe e profissional ela cita a sua médica, a Dra. Cláudia Boutros. “Fica o meu agradecimento a essa excelente profissional após o meu parto. Foi um momento muito delicado, mas ela teve um olhar não apenas para o bebê, mas para toda a família. Ela também nos mostrou que precisávamos de uma ajuda e que era preciso ampliar nossa rede de apoio. Sem dúvida, ela foi de fundamental importância para a nossa família”.
Um olhar profissional
Especialista em clínica de bebês, pela PUC-SP, Dra. Claudia Janette Boutros Carvalho também é fundadora e presidente do Projeto Ninho do Bebê. É pós graduanda do curso medicina e psicanálise com bebês - UNI-Farias Brito e Estudos em psicanálise do instituto pelo GEP São Jose do Rio Preto. Ela explica que no período de gestação, as futuras mamães têm fantasias e uma necessidade de saber tudo, nunca errar, serem perfeitas, terem controle. E isso aumenta os medos e receios buscando o excesso de informações na internet e seguindo blogs que muitas vezes ditam regras do perfeito - mas é preciso ter cuidado. “Esse é um momento em que a mãe deve se desprender dos excessos de questões externas e olhar para dentro de si. É um tempo de mudança e de transformação, em que elas precisam estar conectadas com a nova vida que está chegando e da nova família que será formada. Para isso é preciso que a futura mamãe entre em contato com a ‘mãe’ que existe dentro dela e procure ajuda para aquilo que ela desconhece. Saber de suas histórias com seus familiares: a história desta futura mamãe e do papai, das canções de ninar que cantavam, do que gostavam quando bebês e crianças. Sentir dentro dela a canção para este bebê”.
Dra. Claudia explica que a maternidade é multifacetada, transcultural, transgeracional e não tem uma receita própria. “Com os tempos modernos, vemos muitos pais solitários e que precisam de ajuda em todos os sentidos, algumas mães (a maioria de nós) ficam muito frágeis neste tempo de vida, o que é esperado. Por isso, há cinco anos, criamos o projeto ‘Ninho do Bebê, para ajudar essas mães que precisam de ajuda e que sofrem com a maternidade. Vejo que o pós- pandemia deixou as mães ainda mais vulneráveis e com maior necessidade de atenção. Também é muito importante que essa mãe procure um grupo de escuta, sem julgamentos e sem regras, apenas para ser ouvida e acolhida. Esses grupos ajudam a mulher a se aproximar mais do marido, da família e até dela mesma”.
Período Baby Blues
Ao falar da depressão pós-parto, Dra. Claudia cita o período “Baby Blues – momento em que todas as mulheres, naturalmente, passam após o parto, devido à nova vida e às preocupações da materna primária. “Homens e mulheres passam por esse período após o parto e está tudo bem passar por ele, pois são muitas transformações que ocorrem na vida do casal. Esse tempo pode durar até 25 dias e, se passar disso, precisamos ficar atentos. A depressão pós-parto também pode estar em uma mãe extremamente angustiada que fica 24h com o seu bebê. Existem casos e casos - algumas não tomam banho, outras não comem e não deixam pegar a criança. Por isso é importante frisar que depressão não é só tristeza, ela também pode vir em forma de angústia materna, mas que a mulher não consegue exteriorizar. “E se for o caso, a mãe precisa ser medicada, pois o bebê não pode esperar que ela fique bem após uma depressão”.
A médica ainda explica que a partir de oito a dez semanas intrauterinas o bebê já possui competências. “Mesmo dentro da barriga, o bebê possui sensoriedade, ele já possui competências para registrar e aprender o que vive já intra útero e pós nascimento. O parto é o momento de transição e de passagem do meio aquático para o meio aéreo em que a mãe/pai tem a maior oportunidade de fazer vínculo afetivo o mais breve possível, pois o bebê espera isso do meio que o acolhe de seu desamparo. E é quando a mãe está mais alerta para receber seu bebê e já se conectar com ele (a mãe reconhece seu bebê como sendo dela e o bebê reconhece essa mulher como sendo mãe dele). É importante que a mãe olhe nos olhos do seu bebê e espere as reações e expressões, pois ele já nasce com capacidades. Todos os bebês já nascem com capacidades, mas dependem de pessoas que cuidem bem deles – e isso fará toda a diferença para o resto de sua vida”, finaliza.
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