

ESG começa onde ninguém vê
Antes de falar de meio ambiente ou impacto social, é preciso organizar como sua empresa funciona por dentro
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Você sente que sua empresa tem potencial para crescer mais, mas algo parece travar?
Os produtos têm qualidade. Os clientes retornam. As ideias surgem com frequência. Mas, no dia a dia, tudo depende de você. É você quem toma as decisões importantes, resolve os conflitos, fecha os contratos, supervisiona o caixa e ainda cuida da parte estratégica. Quando algo escapa da sua agenda, a empresa desacelera.
Delegar parece arriscado. Planejar com calma soa como um luxo. Criar processos? Parece só mais trabalho. Enquanto isso, as demandas aumentam, a equipe espera respostas, e a sensação é de estar sempre resolvendo o urgente — nunca o importante.
Essa realidade é mais comum do que parece. E, na maioria dos casos, o que impede o crescimento não é falta de esforço ou visão. É a ausência de uma estrutura clara para sustentar tudo isso. Isso tem nome: governança.
Governança é o modo como a empresa toma decisões, distribui responsabilidades, organiza informações e garante que aquilo que funciona continue funcionando — mesmo diante das mudanças inevitáveis que todo negócio enfrenta.
É comum associar esse termo às grandes corporações, conselhos administrativos e organogramas complexos. Mas toda empresa já possui algum tipo de governança, ainda que não perceba. O problema é que, quando ela não é pensada com intenção, tende a se apoiar no improviso, na intuição ou no controle excessivo de quem está à frente.
Acompanhei uma empresa de serviços com cerca de 20 funcionários que cresceu rapidamente em poucos anos. O sócio-fundador era carismático, conhecia todos os processos e sabia lidar com os clientes como poucos. Mas não confiava que a equipe tomaria boas decisões sem ele. Tudo passava pela sua aprovação. Quando precisou se afastar por um problema de saúde, o time travou. Os contratos atrasaram, os clientes perceberam, e o clima interno se deteriorou. A empresa não parou por falta de talento — mas por depender demais de uma única liderança.
Em outro caso, duas sócias administravam uma confecção regional com grande potencial. Tinham uma equipe engajada, produto de qualidade e mercado em expansão. O que faltava era clareza nas decisões. As conversas estratégicas viravam desentendimentos. Não havia um espaço
regular de alinhamento nem critérios definidos para as escolhas mais relevantes. Aos poucos, o cansaço e a frustração ocuparam o lugar da confiança.
Por outro lado, conheci uma empresa do setor de alimentação que decidiu reorganizar sua governança antes mesmo de escalar. Criaram uma rotina semanal de reuniões com pauta definida, dividiram funções com base em competências e passaram a registrar os principais aprendizados de cada mês. Aos poucos, os próprios colaboradores começaram a antecipar soluções e propor melhorias. Os donos conseguiram sair da operação sem sentir que estavam perdendo o controle. Na verdade, ganharam clareza.
Governança não exige estruturas rígidas. Trata-se de desenhar uma forma de funcionamento coerente com a realidade da empresa e, ao mesmo tempo, capaz de sustentá-la em movimento. É isso que transforma um bom negócio em um negócio viável. E que mantém uma boa ideia relevante, mesmo quando o contexto muda.
Nas pequenas empresas, isso pode começar com atitudes simples: registrar decisões importantes, separar as contas pessoais das contas do negócio, estabelecer uma rotina de reuniões, criar um espaço regular de escuta com a equipe, escrever de forma clara os papéis e responsabilidades de cada pessoa, formalizar acordos entre sócios.
Tudo isso é governança na prática. E tudo isso está ao alcance de quem deseja crescer com solidez.
Quando falamos em ESG, muita gente pensa logo em meio ambiente, energia limpa ou responsabilidade social. Mas o G, de governança, é o ponto de partida. É a base que sustenta as boas escolhas. É o que transforma intenção em estratégia. É o que garante que o negócio continue firme, mesmo quando as circunstâncias mudam.
Se a sua empresa está pronta para crescer, talvez o próximo passo seja organizar o que acontece por dentro. No próximo artigo, vamos mergulhar no S — o pilar social. Porque negócios são feitos por pessoas. E, muitas vezes, os maiores desafios estão justamente nas relações que sustentam tudo o que fazemos.
Nos vemos lá.