Bebês Reborns, que atirem primeiro a pedra
- revistanovaversao
- há 4 dias
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Loucura? Vontade de chamar atenção? Carência? “Sem vergonhice”? O mundo está perdido? Isso existe por causa da internet?!
Fato é que virou fenômeno nacional. Não se fala em outra coisa. Viralizou! Muitos são, principalmente, os julgamentos. Alguns questionam, ficam curiosos, interessados, temerosos.
Outros querem saber mais, e a pergunta que fica é: o que leva pessoas adultas, aparentemente “normais”, a tratarem bonecas como se fossem seus próprios bebês?
O alvoroço, a divulgação, o exagero e a indignação foram tantos que o tema chegou ao Congresso Nacional. Deputados apresentaram um projeto de lei prevendo multa de até 20 salários mínimos para quem tentar obter qualquer tipo de benefício, prioridade ou atendimento destinado a bebês de colo com um “bebê reborn”. Proposta está ainda sem aprovação.
Enquanto psicóloga sistêmica narrativa, busco contextos: o que não está sendo dito, visto ou percebido? Quais as múltiplas histórias por trás de cada comportamento? Tento ser respeitosamente curiosa e entender qual é a simbologia, a representação e a função do que está sendo relatado. E, principalmente, qual é a nossa responsabilidade enquanto indivíduos e enquanto parte de uma época, um contexto, uma sociedade?
Meu convite é irmos além.
Outro dia, me contaram sobre uma mulher na fila do supermercado. Ao ver outra mulher com um bebê no colo, ela gentilmente ofereceu seu lugar. Mais tarde, no estacionamento, ajudou a colocar as compras no carro e sugeriu que a mãe colocasse a “nenê” na cadeirinha. Ao se despedir do bebê, percebeu que se tratava de uma boneca. Não era um bebê de verdade.
O que leva uma mulher adulta a tratar uma boneca como se fosse um filho?
Poderíamos falar sobre o público e o privado em nossa sociedade, sobre preconceitos machistas, sobre a velocidade com que histórias são contadas e recontadas, muitas vezes sem a menor preocupação com fontes ou veracidade — como o caso da jovem que postou estar levando sua boneca ao hospital e teria sido atendida por um médico.
Voltando ao Congresso: será que são essas pessoas com suas bonecas que estão tentando furar filas e obter benefícios? Ou será que ainda é — e sempre foi — sobre sermos empáticos e termos bons corações?
Fico com as pessoas de bons corações.
E, como disse: vamos além. Será que essa mulher com a boneca se sentiu constrangida ao ser acolhida? Ou será que, naquele momento, sentiu-se vista, cuidada, acolhida de uma forma que talvez jamais tenha sido?
Essas mulheres — e também alguns homens — não estão brincando. Não se trata de uma brincadeira, mas de um processo de cura.
Não é sobre “loucuras” ou “querer aparecer”. É sobre acolher-se.
É sobre dores profundas.
É sobre maternidades interrompidas ou nunca vividas.
É sobre filhos não nascidos, colos nunca recebidos, colos que se precisou dar sem nunca ter tido um.
É sobre vínculos rompidos ou nunca formados, lutos abafados, a sensação de não ser vista, não ter lugar, não pertencer.
É sobre vazios profundos jamais preenchidos.
É sobre afetos que não puderam existir.
É sobre depressão, dependências, perdas, traumas ou outras dores — cada uma com sua história.
Para lidar com tudo isso, o acompanhamento psicoterapêutico é essencial.
Palavras nem sempre bastam. O tempo, muitas vezes, também não é suficiente para curar.
Esses são chamados processos de substituição simbólica — quando algo concreto simboliza algo emocional. É uma forma que o inconsciente encontra para iniciar a cura, ou pelo menos amenizar a dor.
O racional nem sempre caminha junto com o emocional. Por isso, algo concreto pode ajudar a representar o que sentimos.
Nesse momento, agradecemos aos bebês reborns — com suas tecnologias, cuidados, rituais e símbolos — por facilitarem processos de dar forma às dores que não encontraram palavras.
Eles ajudam na busca por acolhimento, preenchimento, cura, autorrespeito e amor-próprio.
Buscar ajuda é fundamental. E, talvez, possamos trocar a pergunta “Que mundo estamos vivendo?” por: “Como posso contribuir para um mundo mais acolhedor?”
Quanto sou responsável por um mundo onde seres humanos precisam de bonecas para se sentirem vistos, conectados consigo mesmos ou com os outros?
Todos precisamos de afeto e presença reais.
As bonecas podem ser resgates lúdicos, de momentos felizes da infância — vividos ou não.
Podem evocar brincadeiras, sentimentos, emoções e momentos prazerosos.
Podem até mesmo desenvolver a criatividade e o autoconhecimento.
Por fim, um profissional pode caminhar ao seu lado nesse processo de autoconhecimento e autocuidado — em harmonia com seus valores, princípios e sem julgamentos.
Com respeito, com escuta, com presença.
Dando visibilidade às suas histórias preferidas, às suas referências, aos seus objetivos e sonhos.
Afinal, todos desejamos pertencer.
De qual grupo você gostaria de fazer parte?
Cristiane Francisco Alves Lorga
Psicóloga familiar sistêmica Narrativa
Contato: (17) 99149-3745
E-mail: lorgacris@gmail.com
Instagran: @crislorga.psicologa
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