Existe um personagem na mitologia grega chamado Sísifo, rei de Corinto, que foi condenado pelos deuses a rolar diariamente uma pedra montanha acima até o topo. Chegando lá, cansado e quase sem forças, a enorme pedra rolava de volta, num eterno trabalho e suplício.
O mito de Sísifo e sua conotação contemporânea é a de que seguimos uma rotina diária, onde o ser humano levanta da cama atrasado, apronta uma correria para sair de casa, trabalha, olha e-mails, whatsapp, redes sociais, faz mil coisas ao mesmo tempo, volta para casa, faz seu jantar com a televisão ligada, dorme, acorda, e começa tudo de novo, numa rotina interminável. E aí aparece a pergunta: qual o sentido de carregarmos a nossa pedra diariamente?
Vivemos numa época onde o vazio interior e a sensação de perda do sentido da vida passaram a ser alguns dos principais problemas e desafios do ser humano. Arthur Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, dizia que a humanidade estava fadada a oscilar eternamente entre os dois extremos de angústia e tédio. O fato é que esses problemas estão se tornando cada vez mais agudos.
A “neurose dominical” é aquele dia marcado por um certo desânimo para muitas pessoas, uma espécie de depressão que as atinge quando se dão conta da falta de conteúdo de suas vidas, que é o momento que elas percebem que na segunda-feira terão que voltar ao seu modo “piloto automático” da semana.
Mas essa falta de sentido que vem acometendo as pessoas que estão vivendo no “piloto automático”, onde o silêncio dos domingos faz com que elas entrem em contato com esse vazio, deveriam lançar um novo olhar sob outras perspectivas e novas dimensões sobre os acontecimentos, poderiam usar a calmaria desse dia para refletirem, avaliarem o que estão fazendo, como estão fazendo e o que podem fazer. Usem esse silêncio para uma revisão de suas almas cansadas.
Viktor Frankl foi um psiquiatra austríaco, sobrevivente do holocausto, fundador da Logoterapia e criador de uma obra extensa. Em uma das suas obras, ele diz: “Viva como se já estivesse vivendo pela segunda vez, e como se na primeira vez você tivesse agido tão errado como está prestes a agir agora”. Ele queria dizer que a pessoa não pode ser substituída e nem pode sua vida ser repetida. A lição é sobre a finitude e a transitoriedade da vida, e a irrevogabilidade de nossas ações. Ou seja, aquilo que se faz está para sempre feito. Ele continua e diz: “Quando já não somos capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós próprios”.
Frankl ainda diz que é necessário que se faça uma reviravolta na pergunta pelo sentido da vida, o que precisamos é mudá-la para: O que a vida ainda espera de nós? Somente com ações práticas promoveremos a mudança que nossas vidas precisam, e não apenas com discursos vazios e repetitivos. Devemos assumir a responsabilidade pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida, em cada situação somos chamados a assumir uma atitude, nenhum ser humano e nenhum destino podem ser comparados com outro, pois cada um é único, nenhuma situação se repete e devemos sempre assumir o sentido de nossa existência, que se altera de um momento para o outro.
Porque quando se vê, a vida passou. É preciso viver cada momento da vida com intensidade. Na maioria das vezes, vive-se com muita pressa, sempre olhando para a etapa seguinte: quer casar, ter filhos, quer vê-los crescidos, vê-los formados, vê-los encaminhados, vê-los casados... Isso se repete em muitas dimensões da vida. Procure viver as experiências com a intensidade que elas merecem, sem pressa, vivenciando-as.
Luciana Ribeiro Soubhia
Psicóloga Clínica
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