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O caso Simone Biles


Todos temos uma consciência interior que precisa ser melhor ouvida. Eu chamaria de consciência superior.

O corpo começa a dar sinais de angústia e ansiedade que, se não forem ouvidas, se acentuam, podem chegar a ser insuportáveis. Não é um sinal amarelo - é um sinal vermelho já.

Não quero entrar ali, não quero ir àquele lugar, não me sinto bem na frente dessas pessoas.

O corpo tem descargas de adrenalina somente de pensar em voltar ao trabalho, entrar naquele avião ou ter que se apresentar em público. A gente sabe o que nos faz bem e o que nos faz mal e muitas vezes não respeitamos essa lógica interna. E aí uma guerra interna é deflagrada.

Simone Biles disse não às disputas finais olímpicas no Japão, com a propriedade de quem percebe que o mundo não a pouparia de mais e mais esforços, indefinidamente. O basta teria que partir dela - e partiu, com o aplauso dos que conhecem o peso da rotina de treinos de atletas de alto nível.

“Não sou a próxima Usain Bolt ou Michael Phelps. Sou a primeira Simone Biles" ela declarou em 2016. A pequena notável soube que carregaria muita expectativa desde o início e já começou grande.

Uma semana antes de embarcar para Tóquio foi entrevistada pelo jornal The New York Times. Ao ser indagada sobre qual teria sido o momento mais feliz de sua carreira, respondeu: “O meu tempo livre". Seria a saúde mental de uma pessoa algo fútil que ela possa ignorar? Atletas de alto rendimento não tem fragilidades ou necessidades comuns? Não são passíveis de adoecer? Não precisam do mesmo espaço de descanso que todos nós precisamos?

“Não somos apenas atletas. Somos pessoas. E, às vezes, é preciso dar um passo atrás”. Foi um passo à frente o de Simone, e muitas pessoas seguirão o corajoso exemplo de responsabilidade pessoal acerca de sua própria saúde e bem-estar.

"Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não simplesmente sair e fazer o que o mundo quer que façamos". Só não sabe o que isso significa quem nunca passou perto dos limites insuportáveis de rotinas intensas e estressoras. Agradar ao mundo é necessário, mas descobrir a valiosa coragem de desagradar é libertadora e fundamental.


Karina Younan

Psicoterapeuta, mestre em Ciências da Saúde pela Famerp

Instagram: kayounan


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