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Festas de fim de ano e alimentos bons e ruins.


Hipócrates, pai da medicina, há mais de 2 mil anos, preconizava que “ o vosso alimento seja o vosso medicamento”. Os alimentos, quando bem empregados, são ricas fontes de energia, fibras, vitaminas e sais minerais. Por outro lado, sabemos que a escolha inadequada dos alimentos pode ser um caminho rápido para morte, em decorrência de um infarto do coração ou um acidente vascular (derrame) cerebral.


Quando o tema é orientação alimentar e saúde cardiovascular, precisamos considerar dois fatos incontestáveis: qual a situação financeira daquela pessoa ou daquela família e quais seriam os alimentos mais maléficos para nossa saúde.


O aspecto financeiro retrata muitas vezes a realidade do país e, contra este fato, os argumentos tornam-se frágeis. O Brasil é notoriamente um país de desigualdades, existe a miséria e existe o desperdício. Torna-se muito difícil e angustiante chamar a atenção de pessoas cujos hábitos alimentares não sejam bons, quando as condições de subsistência limitam a aquisição dos melhores alimentos . Nestes casos, os alimentos “piores” podem ser a única ou pelo menos a opção mais acessível. Caberá ao médico saber dimensionar o impacto da situação financeira na qualidade da alimentação e tentar de alguma forma orientar quais seriam, dentre os “piores alimentos “, as melhores opções.


O conhecimento científico permite reconhecer as propriedades dos alimentos, seus benefícios para a saúde cardiovascular como também os eventuais efeitos colaterais. Não podemos esquecer que , como postulado por Hipócrates, o alimento é algo tão nobre para subsistência que pode ser entendido como um medicamento e, como tal, também pode ter alguns efeitos colaterais na dependência da quantidade e da frequência do seu consumo. Pode parecer estranho e até confuso, mas existem alimentos que podem se tornar os “piores” mesmo quando consumidos em pequena quantidade, contanto que a capacidade de metabolização deste alimento seja muito lenta por parte de nosso organismo. E existem aqueles alimentos tradicionalmente taxados como maléficos que, em algumas pessoas, a capacidade de metabolização pode ser tão eficiente que demora para gerar efeitos colaterais.


Em tempos de pandemia e com a aproximação das festas de fim de ano, houve uma aproximação inigualável entre as pessoas e o consumo de alimentos. Seja por ansiedade, angústia e compulsão, seja pelo simples abuso consciente, as pessoas têm consumido maior quantidade de alimentos em sua rotina diária e aqueles alimentos “piores” têm sido os preferidos.


A correlação entre o sabor dos alimentos e se os mesmos estão na lista dos “piores” é algo extremamente interessante e ao mesmo tempo intrigante. Isto porque muitos alimentos saborosos e deliciosos, que induzem as pessoas a repetir o consumo quase diariamente, destacam -se na lista dos “piores” alimentos. Mas, afinal, por que alguns alimentos são apontados como “piores “ ? Quais são os pré-requisitos para um alimento figurar na lista dos “piores” ? De forma muito concreta, podemos classificar como “piores” aqueles alimentos que:


1) aumentam as taxas de colesterol e triglicérides;

2) aumentam as taxas de açúcar no sangue;

3) são ricos em calorias;

4) favorecem o ganho de peso exagerado;

5) causam alterações na pressão arterial;

6) prejudicam a qualidade de nosso sono;

7) causam reações alérgicas em nosso corpo;

8) prejudicam nosso funcionamento intestinal;

9) promovem retenção líquida e inchaços pelo corpo;

10) Existem propriedades cancerígenas.


E agora vamos nomear os vilões desta história e exemplificar para cada situação, ressaltando ,porém, que o consumo destes alimentos que serão citados não é terminantemente proibido, mas deveríamos entender, com ajuda médica e de um nutricionista, sobre o funcionamento, as reações e capacidade de adaptação metabólica de cada pessoa e cada organismo.


1) Carnes gordurosas, alimentos fritos e alimentos ricos em gorduras trans são responsáveis pelas taxas elevadas de colesterol e triglicérides;

2) O uso do açúcar comum refinado tem sido relacionado com diabetes e câncer. Sempre interessante considerar uma opção mais natural ao açúcar comum;

3) Dentre os alimentos muito calóricos, podemos destacar as massas, farináceos e bebidas destiladas. As opções de massa integral , com maior quantidade de fibras e cereais, pode ser mais atrativa como também consumir moderadamente bebidas como o vinho tinto;

4) O ganho de peso depende do balanço positivo - ou seja , o consumo elevado de alimentos “piores” mediante uma queima calórica reduzida devido a prática irregular de atividade física;

5) A pressão arterial é sensível aos alimentos ricos em sódio e aqueles muito condimentados. Também devemos tomar cuidado com as bebidas muito estimulantes como o café e alguns chás;

6) Nosso sono noturno pode ser significativamente prejudicado pelo consumo de alimentos gordurosos e fermentativos ( produzem muitos gases ), além de bebidas estimulantes;

7) Alguns alimentos podem ser muito alergênicos como frutos do mar, leite e alguns grãos . Esta questão, além de precisar ser bem diagnosticada, jamais pode ser subestimada, já que em alguns casos existe risco de morte;

8) Os alimentos fermentativos como massas e grãos podem prejudicar a função intestinal e, consequentemente, afetar o equilíbrio de outros órgãos também;

9) Os alimentos mais salgados, condimentados e mais ácidos podem favorecer retenção líquida e inchaços pelo corpo. Devemos priorizar os temperos naturais em relação aos produtos industrializados;

10) Alimentos fritos ou mesmo quando assados em excesso, adquirindo aquele aspecto “torrado” são produtos cancerígenos. Além destes, muito cuidado com excesso de leite integral e com alimentos ricos em gorduras trans.


Considerando todas estas ponderações, notem que um alimento ser considerado “pior” é algo muito circunstancial. O alimento pode não ser tão gorduroso mas produzir muitos gases intestinais e causar alergias, por exemplo. Por outro lado, pode ser um alimento com poucas calorias mas que, quando preparado como uma fritura, se torna cancerígeno.


O ideal é que todos nós tenhamos uma rotina alimentar baseada no equilíbrio e, sobretudo, no conhecimento das reações de nosso organismo aos alimentos. Precisamos ter apoio médico e de um nutricionista para isto, até porque vamos ter de investigar fatores genéticos e familiares também. Além disso, nossa alimentação não poderá fugir de nossa realidade econômica, já que o alimento “melhor“ poderá não ser o mais acessível e barato. Sempre que for possível equilibrar todas estas variáveis, o alimento deveria ser nosso medicamento.


Dr Edmo Atique Gabriel

Médico Cardiologista

CRM: 105.226

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