Coração de bebê: A importância da cardiologia fetal no pré-natal
- revistanovaversao
- 21 de jun.
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A gestação é um período de descobertas e cuidados intensos. E quando o assunto é o coração do bebê, a atenção deve ser ainda maior. A cardiologia fetal tem desempenhado um papel fundamental no diagnóstico precoce de malformações cardíacas e no planejamento de um parto mais seguro. Conversamos com a Dra. Marilia Maroneze, cardiologista pediátrica e fetal, para entender melhor o que é essa especialidade, como ela funciona e qual seu impacto na vida dos pequenos desde antes do nascimento.
O que é a cardiologia fetal?
A cardiologia fetal é a área da medicina que se dedica a estudar o coração do bebê ainda durante a gestação, por meio do exame chamado ecocardiograma fetal. Com ele, é possível avaliar o funcionamento do coração dentro do útero, identificar doenças, malformações, alterações circulatórias e até mesmo arritmias. “É como se fosse um ultrassom morfológico do coração”, explica a Dra. Marilia.
Além de examinar a anatomia cardíaca, o exame permite acompanhar estruturas como o canal arterial, essencial para a circulação fetal. Curiosamente, fatores como o consumo excessivo de chás, café, uvas, morango e azeite podem interferir nesse fluxo.
Quais doenças podem ser detectadas?
A especialidade permite detectar arritmias e malformações importantes como coarctação de aorta, tetralogia de Fallot, defeito total do septo atrioventricular, síndrome do coração hipoplásico, entre outras. Também é possível identificar tumores cardíacos – condições mais comuns do que se imagina.
Entretanto, por conta das diferenças na circulação fetal, duas condições específicas não podem ser diagnosticadas ainda na barriga: a comunicação interatrial e a persistência do canal arterial.
Quando fazer o exame e quem deve realizar?
O ecocardiograma fetal é recomendado entre a 24ª e a 28ª semana de gestação, mas pode ser feito mesmo após esse período. A visibilidade pode diminuir com o avanço da gravidez, mas isso não inviabiliza o exame.
Embora existam fatores de risco que levem o obstetra a solicitar o exame – como idade materna acima de 35 anos, uso de medicações, doenças como diabetes e lúpus, reprodução assistida ou infecções – a Dra. Marilia alerta que 90% das cardiopatias congênitas surgem em gestações de baixo risco. Por isso, ela defende a importância de tornar o exame acessível para todas as gestantes.
E se for encontrado um problema cardíaco?
Detectar uma cardiopatia durante a gestação muda completamente o rumo do pré-natal. O acompanhamento se torna mais frequente e alguns casos podem ser tratados ainda dentro do útero, por meio de procedimentos que visam reduzir a gravidade da malformação. Além disso, é possível planejar o parto em centros especializados, com UTI neonatal e equipe pronta para atender o bebê desde os primeiros minutos de vida. “A falta de diagnóstico precoce é um dos principais fatores de mortalidade nessas crianças. Às vezes, mesmo chegando a um hospital de referência, o atraso pode trazer consequências irreversíveis, especialmente para o cérebro, por falta de oxigênio”, explica.
E depois que o bebê nasce?
Após o nascimento, alguns sinais podem indicar a presença de uma cardiopatia: suor excessivo ao mamar, dificuldade de ganho de peso, cansaço exagerado, desmaios, dor no peito, infecções respiratórias frequentes ou até mesmo um sopro detectado pelo pediatra. Ainda assim, a especialista reforça: “Muitas doenças são silenciosas e só se manifestam quando já é tarde demais. Avaliar o coração da criança, mesmo sem sintomas, é um cuidado essencial”.
Entre as cardiopatias mais comuns na infância estão a comunicação interventricular, a interatrial, estenose pulmonar e insuficiências valvares. Parte delas requer cirurgia ou cateterismo, mas muitas podem ser tratadas com medicação e acompanhamento clínico.
Prevenção começa na infância
Os riscos cardiovasculares têm aumentado entre as crianças. Má alimentação, sedentarismo e estresse impactam diretamente a saúde do coração. “Estamos vendo crianças de 6 anos com pressão alta e jovens adultos com doenças que antes só apareciam após os 50 anos”, alerta a médica.
A recomendação? Alimentação equilibrada, rotina com poucos estímulos estressantes e pelo menos 60 minutos de atividade física moderada por dia, mesmo na infância. E claro, acompanhamento regular com um cardiologista pediátrico, para que cada criança tenha seu risco avaliado e receba as orientações adequadas.
Dra. Marília Maroneze Brun
Médica Cardiologista Pediátrica - CRM-SP: 212.167 | RQE: 1.041.351
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