A arquitetura que acolhe o invisível
- revistanovaversao
- 17 de jun.
- 3 min de leitura

Mais do que estética ou funcionalidade, a arquitetura tem o poder de tocar a vida das pessoas em um nível profundo — emocional, sensorial e até comportamental. É a partir dessa consciência que surge a neuroarquitetura, uma área que une ciência e sensibilidade para criar ambientes que promovem bem-estar, equilíbrio e qualidade de vida.
Quando aplicada com propósito, ela transforma espaços em verdadeiros aliados da saúde mental, da produtividade e da inclusão. E é exatamente esse olhar que a arquiteta Cláudia Carvalho leva aos seus projetos: um olhar que escuta, acolhe e traduz as necessidades humanas em cada detalhe do ambiente — especialmente quando se trata de criar espaços para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Do mármore ao propósito
“Comecei na arquitetura atendendo uma demanda de projetos voltados a mármores e granitos, como bancadas de cozinha e lavatórios de banheiro. Mas, com o tempo, percebi que minha profissão poderia ir além da estética e da função — poderia ser um instrumento de transformação de vidas. E foi quando passei a alinhar minha atuação ao meu propósito de vida: impactar positivamente as pessoas por meio do que eu faço.”
Foi nesse caminho de autoconexão e busca por significado que a neuroarquitetura entrou na vida de Cláudia. “Ela veio exatamente ao encontro desse propósito e do amor que tenho pelo que faço. A neuroarquitetura me ensinou algo essencial: primeiro eu entendo de pessoas, depois eu projeto o espaço para elas.”
O que é neuroarquitetura, afinal?
A neuroarquitetura é a intersecção entre arquitetura e neurociência. Ela estuda como os ambientes afetam nossas emoções, comportamentos e percepções, a partir de estímulos como luz, som, cor, textura e organização espacial. “Nosso cérebro responde automaticamente ao ambiente em que estamos. Isso pode nos trazer calma, foco, conforto — ou, ao contrário, gerar estresse e desorientação. Quando projetamos com base nessa ciência, criamos ambientes mais humanos, acolhedores e funcionais.”
A neuroarquitetura foi formalizada por John Eberhard, fundador da Academy of Neuroscience for Architecture (ANFA), e hoje é aplicada em diferentes contextos: residências, escritórios, escolas, hospitais e espaços públicos.
Autismo e ambiente: uma relação delicada e essencial
Para pessoas no espectro autista, os estímulos do ambiente podem ser determinantes para o bem-estar — ou para a sobrecarga sensorial. “Ruídos intensos, luzes fortes, excesso de informação visual ou layouts desorganizados podem gerar ansiedade e até crises. Um ambiente imprevisível afeta diretamente como essas pessoas se sentem e se comportam.”
Por isso, Cláudia defende que a arquitetura tem um papel fundamental na criação de espaços mais acessíveis sensorialmente. “É possível — e necessário — projetar com cuidado: iluminação difusa, isolamento acústico, cores suaves, texturas confortáveis e fluxos bem definidos. São escolhas que promovem segurança emocional, autonomia e tranquilidade no dia a dia.”
Elementos essenciais para ambientes neuroinclusivos
Cláudia destaca alguns pontos-chave ao projetar para pessoas com TEA:
• Zonas de transição: espaços intermediários como varandas ou halls ajudam na adaptação sensorial entre ambientes internos e externos.
• Mapeamento sensorial: cada pessoa no espectro tem reações diferentes aos estímulos, por isso é essencial personalizar o projeto.
• Cores suaves: o uso consciente da cromoterapia, com tons como azul e verde, transmite calma e reduz a ansiedade.
• Iluminação e acústica: luminárias indiretas e recursos de isolamento sonoro evitam estímulos excessivos.
• Espaços de pausa: ambientes tranquilos e com menos estímulos, ideais para momentos de regulação emocional.
Empatia como ponto de partida
“Projetar um ambiente neuroinclusivo exige mais do que técnica. Exige empatia e escuta ativa. É preciso ouvir com atenção, observar e compreender as particularidades de cada pessoa — inclusive das que convivem com o autista naquele espaço. A análise precisa ser completa, cuidadosa e humana. Ambientes bem planejados permitem que pessoas com autismo frequentem a escola, o comércio ou espaços públicos com mais segurança e autonomia. Isso amplia vínculos, oportunidades e promove uma sociedade mais empática.”
De dentro para fora: o lar como primeiro refúgio
Mas por que começar pela casa? Para Cláudia, a resposta é clara: “A casa é o primeiro espaço de acolhimento. Para quem está no espectro, o lar precisa ser um lugar de segurança, onde ela possa se expressar e se regular emocionalmente. Quando a pessoa se sente bem em casa, ela se fortalece para ocupar outros espaços. É por isso que acredito em uma inclusão que começa de dentro para fora.”
Serviço:
Contato: (17) 99138-4462
Instagram: @arquiteta_claudiacarvalho
Facebook: Claudia Carvalho
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